terça-feira

A magia das cores

Artigo publicado na revista HPC Essencial, nº12, da Editora Price, destinado ao farmacêutico.



A tonalidade dos produtos cosméticos é um importante atributo para torná-los mais atraentes e aproximá-los da expectativa do consumidor, além de se constituir em um diferencial de marketing


Por Paula Reis


Os corantes são utilizados em praticamente todos os produtos da indústria de higiene, perfumaria e cosméticos. Essa prática não pertence aos tempos modernos. Desde os primórdios, diferentes povos utilizam materiais naturais, como carvão, giz, minério de cobre, hena e açafrão, para dar cor a produtos e tecidos. Tanto é verdade que até nas cavernas eles eram utilizados para fazer as pinturas rupestres. De lá para cá muita coisa mudou, mas o fascínio pelas cores continua. Para ter uma idéia, o corante artificial foi inventado em 1856, quando o químico inglês William Henry Perkin sintetizou a mauveina.


Atualmente eles são divididos em corantes orgânicos e inorgânicos, e diversas regras contemplam seu uso na formulação de produtos. Para controlar a produção, a Anvisa é o órgão responsável pela regulamentação e fiscalização do setor de cosméticos. A farmacêutica especialista em marketing Maria Angélica Carluci, sócia da Pharmédica Farmácia de Manipulação, explica que “os corantes e pigmentos são obtidos sinteticamente através de reações químicas de fontes minerais ou orgânicas. Basicamente, a definição seria que corante é tudo que é solúvel em água e óleo, e pigmento é insolúvel nos dois meios.



Corantes e pigmentos na berlinda


A indústria cosmética iniciou a popularização dos corantes no final da década de 1940 e início de 1950, motivada pelas estrelas de cinema, cujas maquiagens eram o destaque. Para banir a produção desenfreada e proteger a população das reações adversas, muitos países organizaram a sua própria regulamentação quanto ao uso dos corantes em cosméticos. No Brasil é adotada a regulamentação harmonizada para o Mercosul, que também se assemelha às internacionais. Para estabelecer que tipos de corante podem ser utilizados, é válida a Resolução 79, de 28 de agosto de 2000.



“Existe uma lista de corantes identificados pelo número do Color Index, na qual estão estabelecidos a denominação do aditivo, o nome, a cor e o campo de aplicação. Nos rótulos de produtos cosméticos, vemos, por exemplo, escrito C.I.10006 verde, C.I.10316 amarelo, C.I. 14270 laranja. Cada número desses identifica um corante”, esclarece a farmacêutica.



Ainda sobre a lista, que é chamada de “Positiva”, há uma divisão dos corantes, segundo o local onde serão utilizados: corantes permitidos para a cavidade oral, específicos para os lábios, para a área dos olhos e assim por diante. A legislação estabelece também a quantidade de impurezas permitidas.



Quanto aos cosméticos importados, eles podem vir com as siglas FD&C (corantes usados em alimentos, medicamentos e cosméticos), D&C (medicamentos e cosméticos) D&C Ext. (medicamentos e cosméticos de uso externo – não podem entrar em contato com membranas e mucosas).



A coordenadora de pesquisa e desenvolvimento da Avon, Olga D’Ippolito, acredita que a legislação não é exagerada, e sim bastante eficaz. “É imprescindível haver regras rígidas para proteger a população de possíveis reações, já que os produtos são destinados ao consumidor em geral.”

A produção


A maioria dos cosméticos, perfumes e produtos de higiene utilizam os corantes apenas como atrativo. Um bom exemplo é o caso dos hidratantes e sabonetes de frutas. A cor dos produtos cosméticos é um importante atributo para torná-los mais atraentes e aproximá-los da expectativa do consumidor, além de se constituir em um diferencial de marketing.



A arte de colorir os cabelos


Há mais de três mil anos, as mulheres tingem os cabelos. A moda foi lançada pelos egípcios, que desenvolveram a técnica de tintura de tecidos e de cabelos utilizando diversos corantes que extraíam de matérias animal e vegetal.



Os fabricantes mantêm um olhar sempre atento às cores da moda e outro às pesquisas comportamentais. A especialista em marketing da Aroma do Campo, Simone Cristina, conta que, para produzir uma nova cor, “um produto é testado entre 50 e 100 pessoas. 30% desse número está relacionado com o desenvolvimento do tom e com o poder de cobertura de brancos. Os testes em bancada são feitos com mechas de Iak , um animal parecido com a ovelha que tem total ausência de melanina. As demais pessoas fazem parte do grupo que atesta a segurança e a eficácia do produto”. O tempo médio para o desenvolvimento de uma nova nuance é de 180 dias. Nesse período o departamento químico desenvolve e assegura a segurança e a estabilidade do produto. Simone explica ainda que o trabalho realizado na pesquisa de novos corantes e a busca pelo melhor equilíbrio entre eles são os responsáveis pelo desenvolvimento de uma coloração com maior qualidade.



Esse trabalho é necessário porque as tinturas capilares são compostas, em média, por 40 moléculas distintas e dessa mistura é que se chega ao tom desejado.


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